Dachstein, na Áustria, foi um lugar que ficou marcado na minha última roadtrip. E o motivo não foi só pela beleza das montanhas, lagos e vilas que a gente encontrou por lá. Mas, também, pelo susto que passei na neve.
Nesse texto, quero compartilhar com você a minha experiência. Então, escolhi uma narrativa descontraída, em formato história. Não espere uma lista de dicas. Para isso, outros textos sobre o país serão escritos.
Esclarecido esse ponto, se você quer embarcar nessa viagem, vem comigo! 😉
Minha relação com a neve
A primeira vez que eu vi uma quantidade absurda de neve foi na Suíça. Eu me lembro que era ano novo e a experiência foi uma das mais divertidas. Eu aprendi alguns truques para não escorregar a cada passo, fiz o famoso “anjinho” com os pés e as mãos, ri quando os flocos gelados bateram em meu rosto.
Foi amor. Desde o primeiro momento.
A segunda vez que reencontrei a neve em grande quantidade foi na Suécia. Lá, embora tenha sido possível matar a saudade, eu não tive a oportunidade de brincar e aproveitar a vista branquinha.
Então, eu fiquei com aquela sensação de quero mais. E o engraçado é que o reencontro aconteceu de forma meio inesperada. Dessa vez, em Dachstein. Porém, ele não ficou marcado só de alegrias como o primeiro. Mas também de susto e um pouco de desespero.
O grande dia
Estávamos fazendo uma roadtrip pela Europa e passaríamos pela bela vila de Hallstatt. Não muito longe, estão as montanhas de Dachstein e eu queria muito conhecê-las.
Na hora de organizar nossa viagem, senti-me extremamente sortuda. Os teleféricos que nos levariam até as cavernas voltariam a operar apenas um dia antes da nossa chegada. Era o começo da temporada de verão. E mesmo o terceiro setor das montanhas ainda fechado, eu conseguiria visitar os pontos que queria.
Foi no dia 28 de abril de 2019. Acordamos cedo, saboreamos o café da manhã da pousada, tomamos um banho quentinho. Pela janela do quarto, eu percebi que algumas nuvens ainda deixavam o sol tímido. Mas, durante o dia, a previsão é que ele aparecesse.
Coloquei minha calça jeans, uma jaqueta resistente a água e meu tênis. Seguimos até o local. Pelo caminho, mal podia conter minha alegria. Eu estava particularmente animada para conhecer o mirante chamado 5 fingers, localizado em Dachstein. Ele prometia uma vista espetacular das vilas próximas.
A fila da bilheteria não estava muito longa. Mas percebi uma certa agitação nas pessoas que compravam seus ingressos. Logo notamos um aviso colado no vidro de cada caixa, ele dizia algo assim:
“Visita ao 5 fingers apenas com sapatos adequados. Muita neve nas montanhas”.
Neve? Eu olhei para meu marido. Assim como eu, ele pensou que nos depararíamos apenas com algum resto de neve da temporada de inverno. Quando chegou nossa vez, o senhor explicou que a trilha até o 5 fingers era de 20 a 30 minutos.
Dissemos que estávamos de tênis, então ele disse que não haveria problema, vendeu o bilhete e desejou uma boa visita.
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A subida
Entramos no primeiro teleférico e, logo, a paisagem lá fora começou a ficar pequenina. A vila de Obertraun podia ser admirada do alto, mas no céu, ainda havia uma boa quantidade de neblina.
Trocamos para o segundo teleférico. A ideia era fazer o 5 fingers primeiro e deixar a caverna por último. Assim que deixamos a estação, a paisagem mudou completamente. Tudo lá fora estava branco.
Meu Deus! Nevava. Muito. Eu mal podia acreditar. Quando o senhor comentou sobre muita neve, eu nunca imaginei que seria nessa quantidade. E que a trilha até o mirante estaria completamente branca assim. Afinal, começava a temporada de verão.
Quando abrimos a porta da estação Krippenstein, grossos flocos de neve deixaram meu cabelo branco em segundos. Mesmo assim, vimos algumas pessoas seguindo pela trilha. Então, imaginamos que talvez não seria tão difícil chegar até lá.
Voltamos no shopping da primeira estação para comprar uma touca antes de começar a aventura. Fechei minha jaqueta, prendi o cabelo, coloquei a touca e disse “Vamos!”.
Eu estava tão surpresa e alegre por poder novamente experienciar a neve. Os primeiros passos foram de brincadeira, jogamos flocos no outro e seguimos. Mas logo nos deparamos com uma subida bem inclinada e foi quando comecei a me sentir um pouco menos confortável com a situação.
O inesperado em Dachstein
A cada instante se tornava mais difícil manter o equilíbrio. Quando a subida terminou e eu me senti aliviada, não muito a frente nos deparamos com uma longa descida. O que seria ainda maior desafiador.
Eu tentei ir de lado, em passos curtos, lembrando das estratégias que aprendi na Suíça. Mas o primeiro tombo não demorou muito a acontecer. Demos risada, me levantei se seguimos.
Minhas mãos começavam a congelar com os flocos de neve que continuavam caindo. Depois do segundo tombo meu e o primeiro do meu marido, eu pensei em desistir.
Mesmo amando a neve, o frio começava a ficar insuportável e os tombos inevitáveis para alguém que não tinha muita experiência e costume. Além disso, agora eu sabia que a visibilidade no 5 fingers estaria péssima. Ao nosso redor tudo que conseguíamos ver seria um imensidão branca e o céu completamente fechado.
Decisão
Mas, depois de refletirmos o preço que pagamos pela entrada só para poder chegar até o mirante e como eu sonhei com aquele lugar, decidi insistir um pouco mais.
O problema é que a cada passo só piorava e o meu medo aumentava. Vendo a minha dificuldade, meu marido sugeriu que saíssemos da rota cheia de passos já formados por outras pessoas e seguíssemos pelas laterais. Lá, a neve ainda estava bem fofinha. O que ele acreditou que facilitaria nossa caminhada.
Olhando aquela imensidão branca, eu só conseguia pensar que se eu escorregasse por aquela montanha, talvez eu jamais terminaria essa viagem – e nenhuma outra. Não haviam proteções ao redor e mal conseguíamos identificar onde estava o limite da montanha.
E o inesperado aconteceu. Uma das minhas pernas se afundou completamente na neve e eu não conseguia puxá-la de volta. Mesmo meu marido me ajudando, eu não tinha forças para sair de lá.
A neve continuava caindo em minha cabeça e eu já não sentia mais minha mão imersa no gelo, nem a minha perna. Quanto mais eu tentava levantar, mais eu afundava. Foram longos minutos de desespero até que finalmente um grupo de pessoas retornava do mirante e se propôs em ajudar.
O destino final
Eles cavaram a neve com as mãos, formando um buraco ao redor da minha perna e eu finalmente consegui tirá-la do gelo.
Foi um alívio. Agradeci imensamente e só conseguia pensar em voltar. Mas ele me encorajaram, disseram que o 5 fingers não estava longe e que, de qualquer forma, eu teria que encarar a neve no caminho de volta.
Talvez você esteja pensando “mas foi só um tombo”. Bem, na verdade não, eu já tinha caída diversas outras vezes. Porém, em nenhuma delas eu experienciei a incapacidade de se mover, ter metade do meu meu corpo imerso no gelo e não ser capaz de levantar, mesmo com ajuda.
Mas, mesmo assim resolvi seguir, ainda um pouco abalada. Porém, certa de que eu precisava ir até o final. Porque se eu parasse ali, talvez criaria uma certa fobia. E eu adoro a neve.
Os passos seguintes não foram muito confiantes, eu confesso. Mas nós conseguimos chegar ao mirante. E, como eu imaginei, não havia a menor visibilidade, era impossível ver as cidades e o lago lá de cima. Tudo estava completamente branco – ou de neve ou de neblina.
5 fingers
O mirante – ou plataforma de observação – em Dachstein é chamado de 5 fingers devido sua forma em mão. Seus “dedos” tem cerca de quatro metros de comprimento e foram construídos sobre um precipício de aproximadamente 400 m de profundidade.
A volta
Voltar foi um pouco menos difícil. Eu já estava “calejada” e embora também teve escorregões, eu não cheguei a afundar na neve de novo. Ao chegar na estação e recuperar o calor do corpo, eu mal podia acreditar naquela manhã.
Em nenhum momento eu esperava me deparar com tanta neve nas montanhas de Dachstein. Foi um encontro inesperado e assustador. Meu marido, não satisfeito com todos os tombos, resolveu fazer o percurso novamente.
Enquanto eu o esperava para seguirmos para a caverna, comprei um suco de maçã gaseificado e ria sozinha do meu desespero, talvez exagerado.
Aprendizados de Dachstein
- Não confie completamente na previsão do tempo.
- Não subestime um aviso dizendo “muita neve”.
- Se houver a possibilidade de neve – nem que seja de um floco -, invista nas roupas certas.
- Confiança ajuda a evitar tombos. Eu percebi que quanto mais insegura eu me sentia na neve, mais eu escorregava.
- Preciso de mais prática na neve. 😀
- Às vezes, vale a pena insistir.
Essa foi a minha história com a neve em Dachstein. E você, também já passou por algo parecido? Compartilhe comigo nos comentários! 🙂
Até a próxima! 🗻